Período fértil da cultura e do carnaval carioca, os anos seguintes à abertura política no país são retratados nesta obra, que, ao longo de suas 539 páginas, traça um amplo e minucioso painel com todos os acontecimentos políticos que, de alguma forma, desaguaram nos 700 metros de pista do Sambódromo, como a anistia, a campanha das Diretas Já, a Assembleia Nacional Constituinte e as eleições presidenciais de 1989, as primeiras realizadas em 29 anos.
Apesar do recorte histórico, o livro ,que resulta da tese de pós-doutorado do autor na Universidade de São Paulo (USP), amplia o campo de investigação, passando por suas próprias memórias afetivas por uma reflexão sobre a produção de sentido por meio da linguagem ritualizada e audiovisual das escolas de samba.
A apresentação é do jornalista e enredista João Gustavo Melo e o prefácio, do professor doutor Francisco Carlos Palomanes Martinho.
"A ideia do livro é mostrar que as escolas de samba não são apenas organizações para alienar a massa. Elas têm uma intencionalidade política. Cada escolha que elas fazem de enredo têm uma intenção e é uma intencionalidade política. Acho que é o espaço para discutir, debater as condições atuais da vida e, sobretudo, no momento que a gente está vivendo: a perseguição ao que é cultural, a perseguição a ter opinião, a ter participação, a ter engajamento nas questões tão ligadas à cultura, às minorias", avalia Guaral.
O autor destrincha desfiles históricos, fortemente carregados de temática social, seja com irreverência e irreverência e nacionalismo, caso da Caprichosos de Pilares, do carnavalesco Luiz Fernando Reis, ("E Por Falar em Saudade", de 1985, e "Brasil com Z, Não Seremos Jamais ou Seremos?", de 1986, entre outros), seja colocando o "dedo na ferida", como fazia a São Clemente, que se notabilizou pelos enredos de crítica engajada ao longo daquela década ("Quem Casa quer Casa", de 1985, e "Capitães de Asfalto", de 1987, entre outros).
Artistas visionários e transgressores, como o carnavalesco Fernando Pinto (1945-1987), também são retratados pelas suas criações, repletas de críticas com apelo social, caso de "Tupinicópolis", apresentado pela Mocidade Independente de Padre Miguel no Carnaval de 1987. Associada a enredos de exaltação ao regime militar até 1976, a Beija-Flor de Nilópolis tem destaque no livro pelos devaneios críticos de Joãosinho Trinta (1933-2011), que resultaram na sua ousadia maior: "Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia" (1989), considerado por muitos como o maior desfile da história e que aparece em destaque na capa do livro, ilustrada por Ronnie Foster.
Sumário
Capítulo 1 – O enredo da minha escola |
1 – Uma paixão que virou objeto de pesquisa |
1.1 – A dinâmica anual das escolas de samba: construção de sentidos e competição
a partir da escolha do enredo |
1. 2 – Por que pesquisar a história a partir dos desfiles das escolas de samba? |
1.3 – Uma renovação na historiografia no Brasil |
1.4 – Referência conceitual: a Teoria da Recepção |
1.5 – Ampliando as fontes: a metodologia da História Oral nesta pesquisa |
1.6 – A construção da narrativa ou os setores de nosso enredo |
1.7 – Vamos ao desfile! |
Capítulo 2 – Carnavais em tempos de ditadura (1964-1979) |
2.1 – O golpe de 1964 e as novas relações de poder |
2.2. – As escolas de samba e os primeiros tempos da ditadura |
2.3. – O carnaval do Sesquicentenário |
2.4 – No mundo do samba: a adesão ao discurso da ditadura |
2.5 – Unidos da Arena: o estigma da Beija-Flor |
2.6 – Na batalha das memórias: “resistência” e “adesão” nos desfi les dos anos 1970 |
2.7 – Interditos e novas percepções do quadro político nas narrativas dos entrevistados |
2.8 – As escolas de samba na virada dos anos 1970-1980 |
Capítulo 3 – Carnavais da Anistia e da abertura (1980-83) |
3 – O desfile enquanto espetáculo midiático |
3.1 – Terrorismo, direita exaltada e bombas na quadra do Salgueiro |
3.2 – Os enredos políticos conquistam espaço na Avenida |
3.3 – As pautas econômicas se transformam em fantasias e alegorias |
3.4 – O fenômeno da recepção no desfi le das escolas de samba |
3.5 – Eleições de 1982: no Rio de Janeiro, “Brizola na cabeça!” |
3.6 – “Tocando o dedo na ferida” nos acordes do samba-enredo |
3.7 – Surge uma estrela dos desfi les críticos: Caprichosos de Pilares |
3.8 – Transformações estruturais nos desfi les: a criação da Liesa e o jogo do bicho |
Capítulo 4 – O carnaval das “Diretas Já!” (1984) |
4 – A inauguração da Passarela do Samba: a polêmica com o custo da obra |
4.1 – A polêmica tentativa de legalização do jogo do bicho |
4.2 – O movimento das “Diretas Já!” |
4.3 – O carnaval das “Diretas Já!”: crítica política com humor |
4.4 – Os enredos críticos das escolas do Grupo 1B |
4.5 – A batalha pela audiência: o desfile como espetáculo midiático |
4.6 – O desfecho do movimento das “Diretas Já!” |
4.7 – As manifestações populares na vida dos entrevistados |
Capítulo 5 – 1985: o carnaval da democracia |
5 – A reconstrução democrática |
5.1 – Nas narrativas dos pesquisadores: o momento dos enredos políticos |
5.2 – O protagonismo da Caprichosos de Pilares |
5.3 – O que apresentaram as escolas em 1985? |
5.4 – Análise das intencionalidades: Cabuçu, Em Cima da Hora e Império da Tijuca |
5.5 – A crítica “delirante” da Beija-Flor e a tríplice homenagem da União da Ilha |
5.6 – As escolas exercem sua cidadania |
5.7 – Um olhar jornalístico e antropológico sobre os personagens do desfile |
5.8 – Carnaval e política: a centralidade de Leonel Brizola |
5.9 – No carnaval saudosista, a Mocidade vislumbrou o futuro |
Capítulo 6 – O carnaval da Nova República (1986) |
6 – Os ventos dos novos tempos |
6.1 – Um carnaval temperado com muita política |
6.2 – Uma visão acadêmica sobre os sambas de 1986 |
6.3 – A crítica política parodiando o universo das escolas de samba |
6.4 – O desfile sob o olhar jornalístico |
6.5 – O grito do Império Serrano: “Eu Quero! Desejos à Constituinte” |
6.6 – Caprichosos de Pilares: nacionalismo engajado |
6.7 – Sonhos e pesadelos: Portela e União da Ilha do Governador |
6.8 – O CIEP na Imperatriz, a história debochada da Cabuçu e o banho de gato da Tijuca |
6.9 – Comentários, entrevistas e narração: uma “História Oral televisiva” |
6.10 – O debate entre carnavalescos |
Capítulo 7 – Os carnavais da Constituinte (1987-1988) |
7 – O carnaval de 1987 |
7.1 – São Clemente (questões sociais) e a “Tupinicópolis” da Mocidade |
7.2 – O governo Leonel Brizola nas narrativas dos entrevistados |
7.3 – Os donos do morro: novos atores no contexto do carnaval |
7.4 – 1988: o carnaval da Constituinte |
7.5 – O enredo póstumo de Fernando Pinto |
7.6 – O Império Serrano e a “saudade da Guanabara” |
7.7 – A crítica da Imperatriz |
7.8 – A crítica explícita aos políticos e uma homenagem ao cinema |
7.9 – O centenário da Abolição |
7.10 – Outros enredos de protesto |
Capítulo 8 – O carnaval das eleições diretas |
8 – O carnaval de 1989: rumo às eleições diretas |
8.1 – A Vila Isabel clama pelos direitos humanos |
8.2 – Outros clamores e outras críticas |
8.3 – O lixo invade a Sapucaí e vira luxo |
8.4 – A Imperatriz Leopoldinense e a narrativa da “História Oficial” |
8.5 – O tira-teima: “tradição x modernidade” nas narrativas dos pesquisadores atuais |
8.6 - Os anos 1990 e as novas temáticas dos desfiles |
9 – Considerações finais |
9.1 – Os enredos das escolas em diálogo com a vida política |
9.2 – Os desfiles na década de 1990 e no século XXI |
9.3 – A Teoria do Espelho ou da Refletividade: o papel da imprensa como propagadora dos agentes culturais das escolas de samba |
9.4 – Um olhar sobre o momento presente: o retorno dos enredos políticos |
9.5 – Evoé! Que venham novas pesquisas sobre carnaval! |
Fontes e referências bibliográficas |
TIPO brochura
FORMATO 18x25
PÁGINAS 540
PESO 450 gramas
ISBN 978-65-88609-20-0